Trump e a Geopolítica Comercial: EUA Concluem Acordo com a China e Redirecionam Foco de Tarifas
A retórica e as ações do ex-presidente Donald Trump na esfera do comércio internacional continuam a ser um tema central e de grande impacto, mesmo fora de seu mandato ou em um cenário de um possível retorno ao poder. A declaração de que os Estados Unidos estariam "concluindo um acordo com a China" enquanto "miram tarifas em outros países" é um indicativo da persistência de uma estratégia comercial assertiva e, por vezes, unilateral, que marcou sua gestão anterior.
INTERNACIONALNOTÍCIA
7/24/2025
A Complexidade do Acordo EUA-China: Fase Um e Além
A afirmação de Trump sobre a conclusão de um acordo com a China remete imediatamente à "Fase Um" do acordo comercial assinado em janeiro de 2020. Na época, este pacto visava desescalar a guerra comercial iniciada em 2018, na qual bilhões de dólares em tarifas foram impostos sobre produtos de ambos os lados. A Fase Um abordou questões como a proteção da propriedade intelectual, a transferência forçada de tecnologia, o acesso a mercados para serviços financeiros dos EUA e compromissos da China para aumentar significativamente suas compras de bens e serviços americanos.
Contudo, a implementação da Fase Um foi um processo complexo e, para muitos analistas, incompleto. A pandemia de COVID-19, que eclodiu logo após a assinatura do acordo, dificultou o cumprimento integral dos compromissos de compra por parte da China. Além disso, as questões mais espinhosas, como os subsídios estatais chineses a empresas, a governança de suas estatais e outras barreiras não tarifárias, foram deixadas para uma hipotética "Fase Dois", que nunca se materializou. Portanto, quando Trump fala em "concluindo um acordo", pode-se interpretar como uma reafirmação de seu sucesso percebido na negociação inicial e um indicativo de que ele buscaria expandir ou aprofundar esses termos, caso retorne à Casa Branca, ou uma retórica de campanha que visa reforçar sua imagem de negociador "duro".
A relação comercial entre EUA e China não se limita apenas a tarifas. Ela engloba a competição tecnológica (especialmente em áreas como semicondutores e inteligência artificial), questões de segurança nacional e direitos humanos. Qualquer futuro "acordo" ou fase de negociação sob uma administração Trump provavelmente abordaria essas tensões crescentes, buscando reequilibrar o que ele percebe como um déficit comercial e tecnológico desfavorável aos Estados Unidos.
A Estratégia das Tarifas: Uma Ferramenta de Pressão e Negociação
A menção de Donald Trump sobre "mirar tarifas em outros países" é um eco direto da sua abordagem comercial "America First". Durante seu primeiro mandato, além da China, nações aliadas como o Canadá, México, e membros da União Europeia foram alvo de tarifas sobre produtos como aço, alumínio e automóveis, sob o argumento de segurança nacional (Seção 232 da lei comercial dos EUA) ou práticas comerciais desleais.
A lógica por trás do uso de tarifas, na visão de Trump, é dupla: primeiro, proteger indústrias domésticas da concorrência estrangeira percebida como injusta; segundo, usar a ameaça ou a imposição de tarifas como uma ferramenta de pressão para forçar parceiros comerciais a renegociarem acordos ou a alterarem suas políticas comerciais. Essa abordagem desafia o multilateralismo e as regras da Organização Mundial do Comércio (OMC), preferindo acordos bilaterais onde os Estados Unidos podem exercer sua força econômica.
A eficácia das tarifas como ferramenta de negociação é amplamente debatida. Embora possam compelir alguns países a cederem a certas demandas, elas também geram custos para os consumidores (pelo aumento de preços de produtos importados), retaliação de outros países (com tarifas sobre produtos americanos), e incerteza para empresas que dependem de cadeias de suprimentos globais. A ameaça de novas tarifas cria um ambiente de instabilidade, levando empresas a reconsiderar investimentos e estratégias de produção.
Os Próximos Alvos: Quem Pode Estar na Mira?
Quando Trump fala em "outros países", é natural especular quais nações poderiam estar em seu radar. Historicamente, ele expressou insatisfação com déficits comerciais com diversas economias, incluindo o Japão, a Coreia do Sul, e principalmente a União Europeia. A indústria automobilística europeia, por exemplo, foi um alvo frequente de suas ameaças de tarifas no passado, sob o argumento de que as importações prejudicavam a indústria automotiva americana.
Além disso, países que, na visão de uma administração Trump, praticam "dumping" (venda de produtos abaixo do custo de produção para ganhar mercado) ou fornecem subsídios estatais "injustos" poderiam ser considerados alvos. O foco poderia se estender a economias emergentes que competem com os EUA em setores específicos ou que são vistas como não aderindo a padrões comerciais justos.
A implementação de novas tarifas teria um impacto significativo nas relações diplomáticas e econômicas. Poderia desencadear novas guerras comerciais, desorganizar ainda mais as cadeias de suprimentos globais e potencialmente levar a uma fragmentação do comércio global. As empresas multinacionais seriam as mais afetadas, forçadas a reavaliar suas operações e estratégias de investimento para mitigar os riscos das barreiras comerciais.
Implicações para o Comércio Global e a Geopolítica
A persistência da retórica de Donald Trump sobre acordos comerciais e tarifas sublinha uma visão de mundo onde o comércio é uma ferramenta de poder e negociação, mais do que uma via para a prosperidade mútua via integração econômica. Se essa abordagem for novamente predominante na política externa dos Estados Unidos, podemos esperar:
Aumento da Volatilidade: Empresas e mercados terão que lidar com maior incerteza sobre custos de importação/exportação e acesso a mercados.
Desglobalização Parcial: Haverá incentivos para a "reshoring" (retorno da produção para o país de origem) ou "friend-shoring" (produção em países aliados), buscando reduzir a dependência de cadeias de suprimentos consideradas arriscadas.
Tensão nas Relações Aliadas: O uso de tarifas contra aliados históricos poderia tensionar alianças e dificultar a cooperação em outras áreas estratégicas.
Impacto na OMC: A abordagem unilateral de Trump continua a desafiar a relevância e a eficácia da Organização Mundial do Comércio como árbitro das disputas comerciais globais.
A política comercial de Trump, centrada em acordos bilaterais e no uso agressivo de tarifas, representa uma ruptura com décadas de multilateralismo. Suas declarações recentes indicam que essa abordagem não apenas persiste, mas pode ser intensificada, remodelando o comércio global e as dinâmicas geopolíticas nos próximos anos.