BRICS se Expande e Pede Reforma da Governança Global em Cúpula Histórica
Em uma decisão marcante, bloco anuncia a entrada de seis novos membros e defende um sistema internacional mais inclusivo e justo. A Declaração de Joanesburgo II também aborda conflitos, o uso de moedas locais e a urgência de reformar o Conselho de Segurança da ONU.
7/6/2025
Joanesburgo, África do Sul – A 15ª Cúpula do BRICS, realizada em Joanesburgo, entrou para a história com a decisão de expandir o bloco, um movimento que redefine sua influência no cenário mundial. A partir de 1º de janeiro de 2024, Argentina, Egito, Etiópia, Irã, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos foram convidados a se tornarem membros plenos, embora a Argentina tenha sinalizado posteriormente que não se juntaria ao grupo.
A expansão foi o ponto alto da cúpula, realizada sob o tema "BRICS e África: Parceria para o Crescimento Mútuo Acelerado, Desenvolvimento Sustentável e Multilateralismo Inclusivo". A "Declaração de Joanesburgo II", documento final do encontro, consolidou as posições do grupo sobre os principais desafios globais, pedindo uma reforma abrangente das estruturas de governança mundial para torná-las mais representativas.
Um Mundo Multipolar e a Reforma da ONU
Um dos pilares da declaração é a forte defesa do multilateralismo e um chamado contundente pela reforma das Nações Unidas. Os líderes do Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul reiteraram a necessidade de tornar o Conselho de Segurança da ONU mais democrático, representativo e eficiente.
No documento, o grupo expressa o apoio às aspirações do Brasil, Índia e África do Sul de desempenharem um papel mais proeminente no Conselho. A declaração enfatiza que a estrutura atual, concebida no pós-Segunda Guerra Mundial, não reflete mais a realidade de um mundo multipolar e as contribuições dos mercados emergentes para a paz e segurança globais.
Crises Globais e Posições Comuns
A cúpula também serviu como plataforma para o bloco articular posições comuns sobre diversos conflitos internacionais. A declaração manifesta "profunda preocupação com a situação na Palestina" e apela para uma resolução pacífica do conflito com base no direito internacional. Além disso, foram abordadas as crises no Iêmen, Sudão e outras regiões, com um chamado geral para o diálogo e a diplomacia.
Fontes de notícias destacaram que, embora o grupo mostre unidade em declarações, existem nuances nas posições de cada membro. Por exemplo, a África do Sul tem sido uma das vozes mais ativas contra as ações de Israel, chegando a levar o caso ao Tribunal Internacional de Justiça, uma iniciativa que recebeu o apoio do BRICS como bloco na declaração.
Economia, Comércio e Moedas Locais
Na frente econômica e financeira, o BRICS reafirmou seu compromisso em fortalecer o papel da Organização Mundial do Comércio (OMC). Os líderes criticaram medidas unilaterais que restringem o comércio e expressaram a necessidade de um sistema comercial baseado em regras, transparente e não discriminatório.
Outro ponto de grande repercussão foi o incentivo ao uso de moedas locais no comércio e nas transações financeiras entre os países do bloco e com outros parceiros comerciais. O objetivo, segundo a declaração, é reduzir a dependência de moedas de reserva tradicionais e fortalecer a resiliência financeira dos membros. O Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), o banco do BRICS, foi encarregado de explorar mecanismos para facilitar esse processo.
A expansão do grupo, que agora inclui grandes produtores de petróleo como Arábia Saudita, Irã e Emirados Árabes, aumenta significativamente o peso econômico do BRICS. Com os novos membros, o bloco passa a representar cerca de 46% da população mundial e mais de um terço do PIB global em paridade de poder de compra.
A decisão de Joanesburgo representa um passo significativo na ambição do BRICS de ser uma força influente na formação de uma nova ordem global, mais equilibrada e atenta às vozes do Sul Global.